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Recordar é viver: bate papo com Ricardinho.

Em ritmo de Copa do Mundo, vamos reviver um grande momento da minha carreira: a entrevista com o craque Gaúcho, Ricardinho.


Em 2017, tive a oportunidade de conversar com Ricardo Steinmetz Alves, mais conhecido como @ricardinho_fut5. A matéria é velha, mas o tema é sempre atual, inclusão no esporte. Ajustamos o texto, para atualizarmos as informações, mas a essência segue a mesma.


Craque do futebol de 5, ou Fut5, o querido atleta Gaúcho de Osório, que representou nosso país nas paraolimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, trouxe para casa mais uma bela medalha de ouro.


Tricampeão paraolímpico, com medalha de ouro, tricampeão Parapan-Americano, o único jogador eleito, por 2 vezes, o melhor do mundo sendo considerado, na atualidade, o melhor jogador do mundo.


Quer mais? Apuf…perdi até fôlego!


Pois não é que eu consegui conversar com o rapaz?! Demorou, mas tá aí. E que conversa! Sempre aprendendo e me surpreendendo com esse universo da inclusão.


Hoje, compartilho com você essa aprendizagem e um pouco mais sobre o Futebol para Cegos, ou Futebol de 5 (Fut5).


Aprendi sobre o assunto nessa conversa e o negócio é o seguinte:

O futebol para pessoas com deficiência visual total (cegueira), também conhecido como Futebol de 5, nada mais é do que uma adaptação do futsal, praticado em grama sintética, ou “parquet”. Em grandes eventos, grama natural.


O campo de jogo é menor e cercado. Cada equipe possui 5 jogadores, incluindo o goleiro, que enxerga (vidente, mas não porque prevê o futuro) 😉


As equipes optam por ter um guia, que se posiciona fora do campo, para assistir os jogadores e orientá-los. A bola possui um guizo e o tempo dos jogos é dividido em 25 minutos para cada lado, com 10 minutos de intervalo.


Durante a partida, o uso da venda nos olhos ocorre para igualar os jogadores, no caso de apresentarem algum resquício de visão.


Agora que entendeu um pouca mais sobre o jogo, vamos voltar ao bate-papo que tive com o jogador.


Primeiro de tudo, o foco da nossa conversa foi trabalho, porque atleta é a profissão do Ricardinho. De forma mais específica, profissional de alto rendimento, pois só assim conseguiu conquistar aos 15 anos uma posição na seleção brasileira e aos 16 ser eleito o melhor do mundo. Fora todos os outros títulos conquistados!

De acordo com o atleta, a sua principal identidade, ou como quer ser reconhecido, é o seu rendimento no esporte. “O esporte no nível em que me encontro é por si só excludente”, diz o jogador. Não pela deficiência, mas por toda a dedicação e disciplina necessárias para se destacar dos demais e alcançar bons níveis de performance, provando a cada partida suas habilidades.


Essa é a realidade! A pelea é árdua para todos.


Talvez, seja um pouco mais árdua para uma pessoa cega, ou com qualquer outra limitação, mas a necessidade de dedicação é requisito básico para se conquistar um lugar ao sol e alcançar com meritocracia o tão almejado sonho. O que a gente desconhece é a batalha individual de cada um e, por isso, pode parecer fácil, mas não é.

Neste caso, o que a gente não sabe, ou melhor, não sabia era a tática que Ricardo adotou para aperfeiçoar os seus dotes futebolísticos lá na adolescência com o seu primo. Como em sua casa não possuía uma bola adaptada, com guizo, Ricardinho construiu sua própria adaptação, utilizando-se de um saco plástico. Sim, esses de supermercado mesmo.


E sabe como a ideia surgiu? Simples.




Um belo dia, em uma “peladinha” com o seu primo, chutou uma bola colocada em campo, que havia sido trazido em uma sacola, e voilà! Percebendo que o barulho feito pela bola era o seu guizo improvisado, de pênaltis passou a arriscar outros lances e a treinar MUITO!


Não é genial? Cada um encontra os seus recursos, basta querer, ter vontade própria.

Um outro ponto bacana, muito referenciado pelo jogador, é o incentivo necessário nas fases iniciais de formação no esporte.


Ricardinho referiu que por meio do Instituto Santa Luzia (www.isl-rs.com.br), colégio que era dedicado exclusivamente ao ensino de pessoas com deficiência visual, recebeu muita orientação. O colégio possuía diversas modalidades adaptadas para crianças. O seu tutor, na época, foi o Dodô, com mais de 40 anos de ensino com crianças cegas.


Foi nesta escola que seu gosto pelo futebol foi explorado e bem direcionado, tornando-o este baita representante do Brasil.


Questionei bastante o Ricardinho sobre outras fontes de formação esportiva para crianças, mas, infelizmente, não são muitas, pois as instituições que incentivam o esporte para cegos, como a ACERGS (www.acergs.org.br), trabalham com pessoas já “formadas” nesta área.


“Era legal ver as crianças criando gosto pelo esporte, com outras crianças cegas […] o colégio era um internato naquele período. Tive colegas de vários lugares e passávamos o dia em atividades, formávamos um time”, disse o jogador.


Daí, surgiu uma dúvida: – será que cegos e videntes conseguiriam jogar futebol juntos?


Bom, o Ricardo disse que não é muito recomendado, pois a pessoa cega acaba interagindo muito pouco com a bola, em função dos demais jogadores que enxergam :-/


Se você é praticante do esporte, se liga aí!


Deve ser uma experiência e tanto jogar futebol com quem não enxerga e compartilhar percepções, sensações, reflexos diferentes.


Não sei jogar, mas me arriscaria! Acredito que o mais importante seria buscar meus recursos, assim como fez Ricardinho, para me adaptar a uma partida com cegos. Não é mesmo?


Podemos nos adaptar a qualquer pessoa, para construirmos espaços de trabalho, partidas de futebol, ambientes mais diversos e inclusivos.


Para finalizar, deixo aqui registrado todo o meu agradecimento e carinho a você, Ricardinho. Desejo que siga com esta carreira brilhante, que iniciou de maneira meteórica e que tanto orgulha o nosso país.


A sua assessora de imprensa @rafameditsch, da Metta Assessoria Esportiva, que confiou no meu trabalho e possibilitou este encontro.


Ao meu grande amigo @alexxherrmann, marketing da Liga Gaúcha de Futsal (www.ligagaucha.com.br), que plantou a semente deste post.

Hoje, em 2022, Ricardinho além de conquistar o tetracampeonato paraolímpico e das inúmeras taças por clubes, ele é tetracampeão Parapan-Americano, tricampeão mundial, três vezes melhor do mundo da modalidade e atleta paraolímpico do ano de 2018.


O tempo passou e tu segue nos enchendo de orgulho, guri! Obrigada.


E de lá para cá, felizmente vimos Institutos e Escolas para Pessoas com Deficiência surgirem, ou se consolidarem ainda mais em todo o país:



Agora sim, que comecem os jogos!


Magda Veríssimo.


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